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19 de novembro de 2011

Cipoais da ignorância

Transcrevo a seguir, por entender ser oportuno, artigo com o título acima de autoria de Carlos Lúcio Gontijo, poeta, escritor e jornalista:

A educação é instrumento fundamental tanto para o desenvolvimento econômico quanto para a evolução da cultura, carente de público que prestigie o teatro, o cinema, a música instrumental, as artes plásticas, o artesanato e, principalmente, a poesia e a literatura, que não têm como frutificar em ambiente de baixo nível educacional, no qual prospera o domínio da imagem, com as pessoas entorpecidas diante das telas de televisão, nas quais a excelência da autodefinição chegou antes de se instalar uma grade de programação capaz de contribuir para a formação de cidadãos autossuficientes e menos dependentes de ações e benefícios governamentais em prol de sua sobrevivência.

Assisto aos jornais perdendo leitores não pela concorrência direta da internet, mas pelo fato de jamais terem trabalhado como deviam em favor de uma educação mais bem estruturada, atuando como elemento de criação de gosto pela leitura. Contudo, ao contrário disso, os veículos de comunicação impressa optaram por diminuir seus espaços voltados a matérias opinativas e à promoção das artes, enchendo suas páginas com noticiário relativo a crimes e exaltação a todo tipo de futilidades, como se estivessem desnorteados com a perda do monopólio sobre a notícia, ocorrido com o advento da internet.

Infelizmente, nossos jornais se preocupam mais com a defesa de seus interesses financeiros, comerciais e políticos do que com o destino da educação nacional. Em Minas Gerais, por exemplo, os mesmos jornais que praticamente “encobriram” a greve dos professores estaduais mineiros, que deixou alunos do ensino fundamental e médio sem aulas por mais de três meses, atuou com extrema ligeireza na divulgação de números – segundo o governo para exclusivo uso interno –, dando-nos conta de que 28% dos professores se mostraram despreparados ao responder questões aplicadas a alunos da rede pública de ensino, conforme pesquisa feita por João Filocre, ex-secretário de Educação do Estado, na qual os professores de física erraram 28%, enquanto os de português e geografia naufragaram no percentual de 26%.

Todavia, é bom lembrar que os levantamentos descortinados são oriundos da lamentável constatação de Minas Gerais se nos apresentar como o Estado que pior remunera seus professores, que recebem R$616,00 por 40 horas semanais. Rio Grande do Sul, com R$791,00, e Rondônia, com R$950,00, são os que vêm a seguir no que diz respeito ao descumprimento do salário mínimo, de R$1.187,00, estipulado pela legislação para os professores públicos da educação básica, com a exclusão das famigeradas gratificações e outros penduricalhos.

Dessa forma, não nos causa espanto algum nos depararmos com professores sem recursos para a busca de aprimoramento e reciclagem, acompanhados por tantos analfabetos funcionais e tantos universitários que só leram na vida as obras literárias indicadas para realização de vestibular e os livros técnicos necessários à sua formação profissional, fenômeno que transforma o exercício do dom da palavra escrita em fardo árduo de carregar entre os cipoais brasileiros da ignorância fertilizados pela visão que toma o gosto pela leitura como uma pedra no caminho do lazer, que tem na reflexão um elemento indesejável e distante de todo e qualquer momento de alegria e prazer, como se o ato de pensar fosse sinônimo de entretecimento e infelicidade.

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