-

6 de setembro de 2010

Errei. Perdão

Faço questão de transcrever esse artigo, com o título acima, publicado hoje em 'O Globo' e no blog de Ricardo Noblat, por entender que o mesmo retrata muito bem o que vem ocorrendo com essas invasões de dados fiscais de políticos com as quebras de sigilos sendo feitas por pessoas filiadas a partido contrário aos que tiveram suas contas vasculhadas:


Na última sexta-feira de manhã, ao gravar comentário para o site de O Globo, eu disse que o governo fora lerdo, irresponsável e incompetente no trato da violação do sigilo fiscal de Verônica Serra. Podendo, lá atrás, abortar o escândalo, não o fez. Mea culpa! Mea maxima culpa!

O certo seria ter dito simplesmente que o governo preferiu esconder o caso.

No dia 20 de agosto último, o secretário da Receita Federal foi informado sobre a quebra do sigilo de Verônica. Perguntei no comentário: O que você teria feito no lugar dele? E disse como teria agido para evitar a eclosão de um escândalo capaz de embaraçar o governo, assustar o seu partido e manchar a provável eleição de Dilma Roussef.

Eu encomendaria de imediato uma cópia da procuração assinada por Verônica que permitira ao procurador dela acessar suas declarações de imposto de renda de 2007 a 2009.

Consta da procuração o nome do cartório onde fora reconhecida a firma. Passo seguinte: telefona aí para o cartório e vê se Verônica tem firma por lá.

Descobriria que ela jamais teve. Logo, a procuração era falsa. Em seguida, destacaria um assessor para reunir as informações disponíveis nos arquivos da Receita sobre o falso procurador – Antônio Carlos Atella Ferreira.

Estava lá: no passado, ele chegara a operar com cinco CPFs ao mesmo tempo. Era processado em vários Estados.

A oposição celebraria se soubesse do caso antes de o governo se mexer.

Quebra de sigilo fiscal é crime. Quebra de sigilo fiscal da filha do candidato da oposição à presidência seria um crime, digamos, triplamente qualificado – contra ela, o pai e o propósito do governo de eleger Dilma. Então levaria o assunto ao conhecimento do meu superior – o ministro da Fazenda.

Nada mais razoável que ele conversasse com o presidente a respeito. E que o presidente, um sujeito esperto, dotado de rara sensibilidade política, reagisse assim: telefonem para Serra.

Oi, Serra, acabei de saber que violaram o sigilo fiscal da Verônica. Pois é, sei... Eu lembro que você tinha me alertado para essa possibilidade. Mas já tomei providências.

E enumeraria todas: chamei o ministro da Justiça. Ele acionou a Polícia Federal, que abriu inquérito. Espero esclarecer tudo em curto prazo. O ministro da Comunicação Social dará uma entrevista coletiva daqui a pouco. E eu soltarei uma nota condenando com veemência o que ocorreu. Somos adversários, mas jamais jogaria sujo.

Concordam que agindo dessa forma o governo se sairia bem? E que a oposição talvez se visse forçada até a elogiá-lo pela rapidez e transparência?

Foi o que imaginei na sexta-feira de manhã. Mas aí, à noite, o Jornal Nacional revelou que o falso procurador de Verônica fora filiado ao PT entre 2003 e 2009. E que cometera o crime ainda na condição de filiado.

Olha aí, gente, formou! O governo escolheu esconder a quebra de sigilo de Verônica. E quando para seu desgosto ela se tornou pública, escolheu mentir ao dizer que Verônica assinara uma procuração, e que era preciso investigar o caso para saber de fato o que acontecera.

Se a imprensa tivesse decidido esperar, é bem possível que nada ficasse esclarecido até o dia da eleição.

Pois menos de uma hora antes de sites e de blogs divulgarem que a procuração era falsa e que Antonio Carlos era um homem de cinco CPFs e de passado obscuro, a Receita ainda teimava em vender a história de que existia uma procuração assinada por Verônica. E que o mais sensato seria transferir para a Polícia Federal a tarefa de apurar tudo com o devido rigor e cuidado.

A verdade é que o governo usou a máquina pública – no caso, a Receita – para proteger sua candidata, o que configura crime eleitoral. E fez uma aposta errada.

Não foi lerdo. Nem mesmo incompetente porque poderia ter ganhado a aposta.
Foi irresponsável. E, por omissão, palavras e obras, acabou sendo conivente com o que Dilma chamou de malfeito. Um crime malfeito, digo eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não saia do Blog sem deixar seu comentário